Há dias em que a minha vida me parece irreal.
Como se de repente acordasse, olhasse em volta e me perguntasse: Mas como raio é que eu vim aqui parar? Como é que eu cheguei até aqui?
Quase a fazer 37 anos. Três filhos, dois quase a fazer 5, um quase a fazer três.
Dizia eu, hoje, que muito embora a vida para mim seja um assunto sério, nao a levo muito a sério.
Levo-a com a leveza e a alegria de uma brincadeira de crianças. Porque só assim pode ser encarada.
Gosto de uma vida leve. Numa bola cor de rosa que, muito embora deixasse de o ser, pode continuar a sê-lo no meu coração.
Se sei quem sou? Diz a S., do T3 para 5, que sou boa gente. Isso acho que sou. é das poucas caracteristicas assumidamente minhas. No resto, sou tantas vezes uma amálgama de coisas... Como se a minha vida se misturasse em retalhos de vidas e eu, tantas vezes nao soubesse qual a linha condutora, qual a ponta da meada.
Esta é a minha vida. Mas podia nao ser. Podia ser outra qualquer. E isso, confesso-vos que me faz alguma confusão. Qual o momento exacto em que decidimos que a nossa vida vai ser de um modo e nao de outro? Quais as decisões que vao orientando a nossa vida de um modo ou de outro? Porquê assim e nao de outro modo qualquer?
Reconhecer-me-ei eu sempre, seja lá em que vida for?
E, no entanto, há coisas tão certas em mim. Perenes. consistentes. Entranhadas na pele.
Diz-me a minha mae que sou desligada das pessoas...que é coisa que nao sou. Nada. As pessoas que se entranham em mim ficam para sempre. Com uma cola forte que nao desgruda nunca.
Sou é desligada de sentimentos menos bons. E sou, muito, sobrevivente. Dificilmente perco a capacidade de me rir. De rir de mim e da vida. Dificilmente me deixo sofrer ou de valorizar a vida de per si...
Mas desligada das pessoas, nao sou de todo. Amo de coração algumas pessoas. Poucas, é certo, porque o meu amor nao se esbanja. Concentra-se em doses fortissimas nessas pessoas que amo.
E essas, são as grandes certezas da minha vida.
São elas, na verdade, o meu fio condutor. Que me fazem reconhecer-me mesmo nos momentos em que olho à volta e me pergunto por onde vou.
Há coisas certas. Há pessoas certas. Há sentimentos certos. Há um coração com buracos (vou ficar com esta frase para mim, S.) é certo, mas que nao deixa de ser coração.
E depois, há o verbo:) nao... depois, existo eu. Com os meus silencios e as minhas palavras. Com os meus momentos e as minhas decisões. Com as minhas pessoas, a minha força, os meus sentimentos.
Eu com a minha certeza de que os caminhos estão à espreita. E que se fazem caminhando. Muito com a certeza de mim. E de nós.
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