Lembro-me das nossas férias (minhas e do V.) em Praga e Budapeste.
E de termos, durante a viagem, conhecido a I. e o Q., um casal com quem a empatia foi imediata. Eram de santa Maria da Feira, tínhamos interesses em comum, encontramo-nos algumas vezes depois dessa viagem.
Mas, depois, fomos deixando de nos falar. Tinhamos vontade, eu e o V., eles provavelmente também, mas era sempre mais confortável mantermos o nosso dia a dia, o nosso quotidiano, que nos esforçarmos, encontrarmos o tempo e a disponibilidade, para nos darmos.
Lembro-me várias vezes disso.
Dessa minha indisponibilidade para, a partir de um dado momento, fazer novos amigos.
Porque manter relacionamentos dá trabalho. Implica concessões, tempo, disponibilidade, espaço. E a sensação que tenho é que, a partir de uma determinada idade, pensamos que os amigos que temos já nos chegam. Deve ser por isso, aliás, que, normalmente, os nossos amigos são os amigos de infância, de liceu ou de faculdade. Raramente temos amigos verdadeiros e duradouros depois dessas épocas.
É pois, com uma imensa ternura, que penso nos meus novos amigos. Amigos de quem gosto muito, que surgiram em fases muito recentes da minha vida, mas que eu acho que vão ficar para sempre.
Dizem-se sempre felizes pela minha amizade. Soubessem eles que o que eu ganho destas amizades é infinitamente mais do que aquilo que eu dou.
Sábado estive com alguns, na conversa, até às quatro da manhã. Falamos sobre filhos, casamento, religião, direito, música, danças de salão, tudo. E, de repente, havia amigos desses amigos igualmente interessantes, igualmente boas pessoas. O que me fez pensar que era capaz de ser amiga deles também. E esta minha disponibilidade crescente para as pessoas, para me dar aos outros, para deixar que se me dêem, é uma conquista muito nova. Mas muito importante. Sinto que cada vez mais gosto de pessoas. Pessoas boas, naturalmente. De estar, de conversar, de partilhar ideias, conceitos e sentimentos. Tenho estado com muita gente do direito, sim. Mas também com outras que não têm nada que ver. Sexta-feira á noite, por exemplo, depois do concerto do Bernardo Sasseti, estive com alguns dos músicos da Orquestra Nacional do Porto. De um mundo completamente diferente. Igualmente cheio.
O que mais importa são as pessoas, não é?
Dá trabalho, sim! Claro que dá trabalho. Mas enche-nos tanto o coração…
Vale a pena. Vale mesmo a pena.