sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

E, nos entretantos...


Os meus pais tiveram um casamento bom. Nao era perfeito no sentido de se entenderem a proposito de tudo, de nao haver discordâncias entre eles, mas foi um casamento perfeito no sentido do amor. Tenho a certeza que, até ao momento em que o meu Pai morreu, os meus pais estavam apaixonados um pelo outro. Lembro sempre, com muita ternura, todas as vezes que em eu brincava com o meu pai a dizer que uma qq actriz ou apresentadora era muito gira e ele me respondia sempre, de forma absolutamente sincera e convicta, que nao chegava aos calcanhares da minha Mãe.

Imagino que tenham passado por momentos menos bons. Nao recordo grandes discussões, mas lembro troca acesa de ideias; diferenças acerca de projectos e do modo de gerir a vida comum, mas sei que sempre concordaram no mais importante: No amor que sentiam, no amor que tinham pelas filhas, na crença que tinham num projecto de vida comum.

Acredito, nao sei se só por isso, mas seguramente muito por causa disso, no casamento. E acredito também em amores que duram o tempo de uma vida.

Acredito em projectos comuns, acredito em vontades, acredito em pessoas.

Casei a acreditar que o meu casamento seria para o resto da vida, muito embora com a percepção de que poderia nao ser.

Acreditei num projecto que acabou por ter um fim. Mas, apesar disso, foi um bom casamento. Enquanto foi. E, também por isso, continuo a acreditar no amor para sempre. E no casamento. Na partilha de duas vontades que serão sempre mais que a soma das partes. Continuo a acreditar que as relações se alimentam. De conversas, de mimos, de memórias, de pequenas atenções. Acredito que as relações são assim tipo as mantas de retalho: Vão-se construindo pedaços que, por si só valem muito pouco mas que, unidos por um fio, se transformam numa manta forte e protectora.

Acredito na construção de memórias nos momentos bons, que sirvam de paliativo nos momentos menos bons.

Acredito, sobretudo, nas pessoas. Na suas vontades e nos seus corações. E, desculpem-me lá os menos românticos, acredito mesmo no amor. Em almas que, nao sendo perfeitas, se completam nas suas imperfeições. Em almas que se querem partilhar, que querem o melhor de si para dar ao outro, que querem viver em si e no outro. Que, nao desistindo, querem ser mais pelo outro, que acreditam e têm vontade de ultrapassar as dissonancias em direcção à harmonia.

Que acham que o melhor do dia há-se ser o momento em que se encontram e que pensam no noutro sempre com ternura, respeito, companheirismo e saudade. Almas que, encontrem-se onde e como se encontrarem, hão-de sempre reconhecer-se, porque o seu caminho era esse e nao outro.

Just like "porque era assim que tinha de ser"

1 comentário:

Juanna disse...

Os meus pais sempre se deram espantosamente mal, tanto que eu sempre desejei que se separassem (desde pequenina). Mas curiosamente, na véspera de morrer e a última vez que esteve lúcido, o meu pai fartou-se dar beijinhos à minha mãe e dizer-lhe que a amava. Vá-se lá entender amores assim!